abril 24, 2010

É a revolta.

Era um dia de escola como tanto outros. O sol brilhava e o calor das tardes de Verão já se fazia sentir.
Maria estava a gozar o seu intervalo com os seus amigos, como era hábito. Até que um rapaz, João, se aproximou.
João pôs-se em frente a Maria e à sua melhor amiga, Glória, de tal forma que estas tiveram que se afastar para poderem respirar, tal era a proximidade. João apresentou-se e disse a Maria que uma amiga desta lhe tinha dado o seu número de telefone. Maria olhou para Glória com um ar espantado. Quem poderia ter dado o seu número a um rapaz que ela não conhecia, nunca tinha ouvido falar e sem lhe pedir autorização? Marta, chamava-se ela, segundo João. Mas Maria só conhecia duas Martas. Uma estava longe, tão longe que seria impossível ter estado ali; e a outra, a outra nem sequer tinha o número de Maria.
‘Talvez não seja o meu número’, pensou Maria, ‘se calhar João está enganado.’
Mas não estava. João mostrou-lhe o número e era, de facto era, era mesmo o de Maria. Mas como?
- Eu gostava de te conhecer melhor. Posso ficar com o número? – perguntou João.
Maria olhou para Glória e tentou pensar o mais rápido possível, mas nada lhe surgia. O que havia de fazer numa situação destas?
Foi então que balbuciou um tímido e receoso: está bem. E fez sinal a Glória para saírem dali.
Saíram. Maria contou a Glória que João tinha o seu número guardado no telemóvel com o nome de ‘Maria Boa’. Glória estava em choque e Maria, essa estava em pânico sem perceber o que se tinha passado. Mas o que a deixava ainda mais assustada era a pergunta: será que tinha tomado a atitude certa? Pois isso, só o tempo lhe diria.


Passaram dias sem nada acontecer. Nem uma mensagem. Nem um ‘olá’. Nada. Maria achava estranho mas começou a achar que talvez fosse uma brincadeira.
Até que começou. O pesadelo começou. As mensagens começaram e os cruzamentos ‘por acaso’ (pensava Maria) na escola sucederam-se…
Um dia uma amiga de Maria conheceu João e disse-lhe que este era perigoso. Que era obsessivo e que já tinha perseguido várias pessoas. Maria teria de se afastar ou seria a próxima vítima.
Com a ajuda de Glória, Maria tentava não se cruzar com João. Evitava sair das salas de aula, andar sozinha, passar por onde ele passava, e até fugia dele discretamente sempre que o via.
Mas Maria estava a ficar cansada. Não podia continuar a viver assim. E um dia não conseguiu fugir discretamente com a sua cúmplice, Glória, e ele apanhou-as. João insultou Maria. Fê-la sentir-se a pior pessoa, disse-lhe que deixava de lhe falar e foi-se embora. Maria não conseguia dizer nada. Se por um lado estava feliz por tudo ter acabado, por outro sentia-se mal e sentia que ainda estava tudo a começar.

 
Maria tal tantas outras raparigas nesse mundo, sentiu-se usada. Esse rapaz não queria conhecê-la, não queria saber da sua personalidade, dos seus sentimentos. Só lhe interessava o corpo de Maria.


É a revolta que me faz sentir assim, é a revolta.

 
(Nota: TODOS os nomes são fictícios. A história, essa terá a veracidade que lhe quiseres dar.)