Contam que, uma vez, se reuniram os sentimentos e as qualidades/defeitos dos homens, num lugar da Terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOUCURA, como sempre tão louca, propôs-lhe:
LOUCURA – Vamos brincar às escondidas?
A INTRIGA levantou a sobrancelha, intrigada, e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou:
CURIOSIDADE – Escondidas? Como é isso?
LOUCURA – É um jogo em que eu fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão enquanto vocês se escondem e, quando eu tiver terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará o meu lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou, seguido pela EUFORIA. A ALEGRIA salta tanto que convence a APATIA.
VERDADE – Para que é que eu me vou esconder se no fim todos me vão encontrar? Eu não quero jogar!
SOBERBA - Este jogo é muito tonto.
No fundo o que incomodava a SOBERBA era que a ideia não tivesse sido dela. A COVARDIA preferiu não arriscar.
LOUCURA – Vou começar! Um, dois, três …
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que, como sempre, caiu atrás da primeira pedra do caminho. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra do TRIUNFO, que com o seu próprio esforço, tinha conseguido subir até à copa da árvore mais alta. A GENEROSIDADE quase não se conseguia esconder, pois cada local que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum dos seus amigos – se era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvore, perfeito para a TIMIDEZ; se era o voo de uma borboleta, o melhor para a VOLÚPIA; se era uma rajada de vento, magnífico para a LIBERDADE. E assim, (a generosidade) acabou por se esconder num raio de sol. O EGOÍSMO, pelo contrário, encontrou um local muito bom desde o início. Ventilado, cómodo, mas apenas para ele. A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano (mentira, na realidade, escondeu-se atrás do arco-íris), e a PAIXÃO e o DESEJO no centro dos vulcões. O ESQUECIMENTO, esse não me recordo onde se escondeu.
LOUCURA – 999.999
AMOR – Ainda não encontrei um local para me esconder, já estão todos ocupados. Ah, está aqui um roseiral, vou esconder-me carinhosamente entre as flores.
LOUCURA – Um milhão!
E começou a busca. A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra. Depois, escutou-se a FÉ discutindo com Deus, no céu, sobre Zoologia. Sentiu-se vibrar a PAIXÃO e o DESEJO nos vulcões. Por mero acaso, encontrou a INVEJA e, claro, pode deduzir onde estava o TRIUNFO. Ao EGOÍSMO, não teve nem que procurá-lo: ele saiu sozinho, disparado, do seu esconderijo, que na realidade era um ninho de vespas.
LOUCURA – (vai beber água e encontra a BELEZA) Ah, estás aqui BELEZA!
A DÚVIDA foi mais fácil ainda, pois encontrou-a sentada sobre uma cerca, sem decidir de que lado se esconder. E assim foi encontrando todos. O TALENTO entre a erva fresca, a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris (mentira, estava no fundo do oceano) e até o ESQUECIMENTO de quem já se tinham esquecido que estava a brincar às escondidas.
LOUCURA – (Procura o AMOR por todo o lado) AMOR onde estás? Não te encontro em lado nenhum! AMOR? Não te encontro, daqui a nada desisto! … AHH está aqui um roseiral, vou pegar numa forquilha e mover os ramos!
AMOR – Aiiiiiiiiii! Os espinhos feriram os meus olhos!
LOUCURA – Desculpa, desculpa, desculpa, mil vezes desculpa. A partir de agora eu sou o teu guia para sempre, como forma de pedir perdão. Não me digas que não por favor! Não sei o que fazer… Sinto-me muito mal!
Moral da história: o AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.
(aula de português)